terça-feira, 21 de abril de 2009


Foi uma injustiça não incluir Berenice no meu grupo de salvadores.

Ela é a minha terapeuta desde que Horst faleceu e tem segurado com eficiência e carinho meu estado emocional. Ontem mesmo chorei muito no seu ombro ao contar-lhe que o que mais me dói no momento é pensar em ter que desmontar, doar tudo que possuo quando terminar minha renda e ir morar com minha filha para alugamdo o apartamento em que moro obter recursos que cubram meus gastos pessoais. Além do afago,Berê propôs reunir meus filhos e incumbi-los desta tarefa que segundo ela deverá ser feita por eles para me aliviar desta função penosa. Eu não tinha pensado nesta possibilidade e a idéia me causou muito alívio. Grande Berenice! Além de competente, ativa, criativa e amorosa é altamente espiritualizada e por isso me estimula a reforçar minha fé para que na minha “passagem” me encontre num nível superior de consciência e também cumpra minha atual missão, acatando os desejos do Poder Superior, aceitando meu destino, valorizando o bem que ainda possuo e realçando a vida rica de emoções e realizações que tive. Pelo raciocínio concordo plenamente que fui beneficiada, mas o difícil é mudar o sentimento.
Pesquisando esta área, voltamos para um passado remoto na procura dos motivos que tornaram profunda minha tristeza. Lembranças daqui e dali me fizeram concluir que talvez já tenha vindo com esta marca de outras vidas e não consiga me livrar dela.
Nas recordações de infância prevalecem solidão e desgostos, mas sei que houve muitos bons momentos. Aconteceu no entanto que minha mãe por suas inúmeras tarefas e meu pai creio que por temperaturas nunca foram próximos de mim. Minhas duas irmãs mais velhas eram muito unidas e na época três e cinco anos de diferença de idade tornavam os interesses inteiramente diferentes. Sobrou para mim como companheiro meu irmão, mais moço considerado penso eu, de menor importância na família e minha avó paterna essa sim, tinha certeza que me amava.Ela era a única pessoa da família com serenidade e fé em Deus. Essa senhora foi meu “porto seguro” e devo a ela meu lado emocional sadio. Mesmo distantes recebi inúmeras dádivas de meus pais. Aprendi com minha mãe a ser empreendedora, meu pai embora não sendo ambicioso foi o provedor de nosso sustento com seu laborioso trabalho de médico honesto e correto. Meu avô era uma pessoa extravagante, trocava o dia pela noite e quando tinha recursos era generoso, contribuía com as despesas da casa, quando não, se omitia como se fosse natural. Tinha paixão pelo estudo não só da medicina como por filosofia, psicologia e outros. Vim a descobrir isso pela sua enorme biblioteca que depois de moça tomei conhecimento. Mamãe fez questão de que freqüentássemos ótimas escolas que com sacrifício eram pagas. Eu saí de um colégio onde era feliz e respeitada só para me igualar a minhas irmãs e por isto paguei um preço alto, tudo “minha culpa”.
Na adolescência me tornei uma moça que todos diziam ser linda e por isso não me faltava namorados. Mas concordo com aqueles que dizem que os anos 50 não podem ser considerados “dourados” pois a repressão sexual era imensa. As moças não só deveriam ser virgens como castas até o casamento, o que era um verdadeiro tormento. Nós éramos trancadas e vigiadas o tempo todo, pois qualquer resvalo significaria uma mancha indelével e aniquilação do futuro. Lembro-me bem do caso de uma de nossas conhecidas, pessoa mais destemida, que solteira teve um filho de seu grande amor, foi tanta a pressão que terminou sendo internada numa clínica psiquiátrica. Pobre Maria Helena, uma moça do bem, alegre e criativa, teve este castigo imerecido. Que “Anos Dourados” foram esses?

Meses se passaram e não escrevi nem uma linha.
Há tempos que não tenho vontade de fazer nada que pareça útil. Tenho a sensação de que fiz muito nesta tentativa e grande parte deu em nada.
Minha querida filha Vera foi quem me tirou do buraco, com uma tenacidade e amor hercúleos me carregava para médicos, exames, cinemas para tudo que achava que poderia me distrair apesar de seus inúmeros encargos com o Renascer.
Meus filhos também muito amados, não faziam tarefas práticas e necessárias essas foram feitas por meu genro Paulo a quem sou muito grata. O que eles faziam de bom para mim é mostrar de várias formas o bem que me querem e a gratidão por tudo que de mim receberam. Com isso concluo que acertei mais do que errei na criação deles, o que também me conforta bastante. Sinto que todos os três me querem viva por mais algum tempo o que não é o meu caso. Talvez quem não tenha atingido 79 anos não possa compreender que viver cansa. São muitas tarefas repetidas e também existe o receio de passar por mais desgostos que é possível tolerar. Vera, vem sempre me contar histórias de senhoras atléticas físicas ou mentais que tem o maior “Tesão” de andar 4 quilômetro na Lagoa, que adoram viajar com netas mundo a fora ou que escrevem maravilhas como Lia Luft e muitas mais. Fico me sentindo a “baixo do rodapé”, pois não tenho ânimo para nada disso. Tem momentos que para manter o equilíbrio emocional tenho que acionar o raciocínio com Bridge do computador, palavras cruzadas e outras tantas inutilidades. Mais hoje estou muito eficiente a conselho de Renato tomei xarope de maracujina para dormir em vez das drogas químicas. Parece que funcionou, pois tive um sono tranqüilo e acordei dês-can-sa-da (fato raro).
Em conseqüência já fiz os exercícios para coluna, esteira, meditação e aqui estou satisfeita escrevendo meu diário que talvez seja útil para minhas netas, netos e bisnetas, as mulheres principalmente, talvez se identifiquem com certos aspectos e os homens ficam conhecendo um pouco desta senhora comum que nasceu em 1928 os que para eles será certamente um passado quase irreconhecível.
Existe uma coisa positiva neste meu momento, sonho com a possibilidade de meu professor de canto coral me escolher para na próxima apresentação fazer um número solo com o título da “nossa Piaf”. Nossa porque ninguém sabe de quem, só eu – Da Câmara Comunitária da Barra – minha escola de canto. Já tenho a roupa preta e uma linda cruz para pendurar no pescoço visto ser este seu símbolo. Esta historia estranha
começou com minha mãe que passou uns tempos inesquecíveis de sua vida em Paris. Apaixonou-se pela cidade, povo e língua e passou essa vibração toda para nós filhas, além de nos colocar em coleio de freiras francesas. Tempos atrás quando fui fazer um curso de canto no “Microfone” minhas professoras afirmaram que minha voz só tinha “brilho” em francês. Aceitando suas abalizadas opiniões fiz um repertório na língua que me era muito familiar baseado nas canções de Mireille, Mathieu e Piaf. Segundo Roberto nossos desejos podem se materializar desde que estejam em concordância com as leis cósmicas. Creio que esta vontade não vai contra nenhuma lei e por isso peço sempre ao Espírito Santo para me atender e também tenho no meu quarto o retrato das duas para me lembrar constantemente desta meta. Já pensou a nossa Piaf! É capaz de dar samba e alegria. Meu professor se entendeu meus planos, ainda não deu sinal. Ontem até aconteceram duas coisas na aula , uma ruim e outra boa. No momento em que chegou a vez de me apresentar o maestro disse: “Vamos rápido por que o tempo já acabou”. Eu deveria ter proposto que adiássemos para a próxima aula, mas como adoro me mostrar não resisti e cantei “Pour Deux Coer qui S'Aime” o fato recompensante foi que um modesto funcionário da Câmara que veio buscar o microfone disse: “Adoro ver a senhora cantar”. Pronto, esta sensação boa anulou a ruim e foi a que trouxe comigo. Puxa! Ainda não são 11 horas e já fiz tanta coisa útil assim, Vera vai acabar ficando satisfeita, e eu quem sabe me tornarei uma “senhora dinâmica”.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Meu querido,


Hoje acordei com uma incrível vontade de conversar com você.
Já fazem quase cinco anos que partiu e essa tristeza não me larga.
Lembra-se que uma vez me disse que gostaria que eu ficasse desolada com nossa separação , aconteceu muito mais do que isso simplesmente desmoronei e por mais que tente não consigo reencaixar as peças. Meu amor ainda é tão vivo que o sinto como nos primeiros tempos que te conheci e esperava ansiosa por teu telefonema. Certamente ficaram faltando tantas coisas a serem ditas mais de qualquer forma direi agora. Como você me fez feliz!
Foi “amor a primeira vista” dos dois lados muitas pessoas não tiveram essa sorte.
Angela acha que nosso romance foi um “mar de rosas” eu não concordo, sem dúvidas prevaleceu o bom mas aquelas brigas sem motivo, hoje acredito que tinham muito mais a ver com nossas raivas enterradas que assim se expressavam. Quem não carrega partes neuróticas? Todos temos, mas deixa pra lá, vamos ficar com o bom.
Viajar, passear, conversar, tudo era bom com você, transar então era super!
Nossos filhos estão bem melhores de saúde. Roberto ainda me preocupa, pois como você deve se lembrar só corre atrás de mega projetos que consomem muita energia e até agora não levaram a nada. Vera como sempre dedicadíssima ao Renascer, mas sempre achando tempo para tratar de mim, fica chateada porque não sou uma senhora atlética como algumas que conhece, pois com razão, acha que seria melhor para minha saúde. Não faço questão nenhuma de viver, sem você tudo perdeu a graça.
“Sou um personagem a procura de uma vida”. Já que o Poder Superior insiste em que eu permaneça neste planeta procuro por algo que me devolva o entusiasmo pela vida. Falando nisso, meu amigo, paguei um “mico” que levei dois dias exorcizar.Tomei coragem e telefonei para o parceiro de Leonor nas novelas. Fui direto ao assunto: Você sabe como é difícil montar uma vida nesta altura dos acontecimentos, mas como sempre gostei muito de representar e não ingressei profissionalmente por ser incompatível com a vida de meu companheiro fiquei com esperança que você me arranje “uma ponte” nesta nova novela. Silêncio...
A resposta veio bem desanimada, mas você pretende começar logo na novela das 8hs?
- Uma pontinha pensei que não fosse tão difícil e abriria portas para um mundo e pessoas que sempre me interessaram. Olha, fiz vários cursos inclusive com Maria Clara Machado.
- Mas qualquer ponta na novela das 8 é importante.
Um forte desagrado foi se apoderando de mim então disse: Olha, este foi um impulso maluco, movido por meu intenso desejo de reconstruir uma vida.
Aí ele foi gentil e disse: Compreendo que você me procurou por ser a pessoa que conhece nesta área vou me informar e se tiver alguém ou alguma chance eu te ligo.
Com sensação de ter “mastigado hóstia” (que besteira!) me despedi fazendo votos de êxito o que não era bem o que meu coração queria dizer naquele momento
Berenice minha querida terapeuta, me relembrou que existem três etapas nestas situações:
1°) Ação (no caso a coragem de me expor no telefonema)
2°) Tempo (as flores só surgem no momento delas)

3°) O Divino (é necessário que o Espírito Santo concorde de ser esta uma boa oportunidade para mim.)

Por enquanto então, só tenho uma coisa a fazer esperar.
Hoje cansei, vou ficar por aqui te enviando um beijo igual aqueles que você me dava no elevador quando ainda éramos noivos.
Até Breve,
Daquela que ainda trasborda de amor por você
Cordélia