sábado, 30 de maio de 2009

Idade, Bisnetas, Assalto e Noite de Autógrafos


Nunca fui de me assustar com idade mas ao completar 80 anos no mês passado fiquei mobilizada.

Meu Deus, que vida longa! Não quis festejar, mas as flores, cartões, presentes, foram chegando eu me emocionando com tantas palavras bonitas de filhos, netos, sobrinhos, amigas, afilhadas e depois de mais de 30 telefonemas parei pensei e senti afinal minha vida tinha valido apena. Não foi atoa que se lembraram da data, comecei a pensar na ligação positiva que tive com todas elas e de cada uma brotava uma recordação agradável. Gostei mais do que se tivesse feito uma comemoração que pelo visto teria sido concorrida, alegria barulhenta, mais não teria tido a oportunidade de ficar com cada um através de seus dizeres afetuosos no silêncio da casa vazia.
Pronto, passou, já me conformei de ser idosa, porém com saúde suficiente para não dar muito trabalho. Não tenho mais medo da morte, com o tempo, as realizações a agente vai se saciando da vida e desejando partir antes de passar por mais perdas dos queridos que se vão.
Mudando da velhice para infância quero contar das minhas bisnetas que passaram uns dias aqui no Rio.
Carol é recém-nascida daquelas que choram sem parar. Cólicas? Ansiedade de existencial? Quem vai saber?
A única técnica que suaviza um pouco é o sábio colo-andante. E haja avós, pais, babás para dar conta...
Mas a boa notícia é que ela esta ganhando peso, o que estava nas preocupando. Gabi é tudo que se deseja numa criança: Bonita, inteligente, afetuosa e espirituosa. Nos momentos da choradeira costuma dizer: “Carol para, por favor, que a Gabi não agüenta...” Adoro outra expressão que usa de vez em quando “Bivó, não conchigo é alto, está quente...”
Seu aniversário de 2 anos foi um acontecimento, teve de tudo, balões coloridos, mesa enfeitada, bolo, presentes, teatro de marionetes e muito mais. Creio que não só os pais e avós se divertiram mais ela também “curtiu” cada momento.
Vou voltar ao passado para contar dois fatos que me tocaram profundamente, cada um do seu jeito.
Dia 29 de Outubro de 2008 não esquecerei nunca, pois foi o dia que cai no conto do seqüestro. Já tinha tido noticia deste fato a tempos atrás mais são tantos os truques e chantagens que deste, me havia esquecido. Ao atender ao telefone ouço terríveis ameaças a minha filha, escuto sua voz chorosa e pedindo socorro que poderia jurar ser a dela. Em pânico obedeci a todas as ordens sem pestanejar. Peguei os R$ 5.000,00 que tinha em casa e corri para o ponto de táxi mais próximo mantendo comunicação ininterrupta pelo celular com meus algozes. Respirava fundo e rezava para manter a calma. Como estava proibida de falar ao motorista tive a idéia de escrever no verso de um cheque, único papel que possuía para pagar a corrida entregá-lo ao chaufeur contando o que estava me acontecendo e o telefone dos seqüestradores, para que meus filhos pudessem saber o local que tinha sido deixada e tivessem uma pista por menor que fosse. Mais graças a Deus Naná e Paulo, não foi preciso, pois ela inteligentemente me acompanhou de longe para saber o ponto de Táxi onde peguei a condução e ele teve a idéia de mandar alguém lá para que avisassem que uma senhora com traje X sendo levada para Caxias estava sendo seqüestrada. Deus então encaixou tudo e foi no “último minuto do segundo tempo” que o motorista disse: “Senhora sua filha está no celular, vamos embora porque isto é um golpe.” Bendito sejam vocês meus queridos que me salvaram de prováveis torturas e extorsões. Ainda bem que tive um dia para descansar deste terrível choque e me preparar para a noite de autógrafos do dia 31.
Foi uma noite agradabilíssima em que tive o prazer de doar meu 1° livro chamado: “Primeiros Passos – da Psicologia à Espiritualidade.” As pessoas chegaram em bandos na Pizzaria Caprieciosa da Barra, Vera e eu procurávamos reuni-las de forma harmônica. Tenho certeza que a maior parte gostou desta reunião informal porque deixei o local depois de meia noite e alguns convidados ainda ficaram por lá. Estes episódios são mesmo um resumo de como é a vida, alegrias e tristezas se reservando para todos nós.
Alguns retornos daqueles que leram o livro e não tinham motivo para querer me agradar, foram críticas muito positivas. Valeu, este fato me alegrou e animou a continuar a escrever o “livro de contar a vida” como diz Clara uma das personagens de Isabel Allende do livro a Casa dos Espíritos.

domingo, 24 de maio de 2009

Final Feliz




Minha filha é médica, especializada em Psicossomática (Psicologia Médica) conseguiu fundar seu setor no Hospital da Lago RJ, onde trabalhou muitos anos.


Quando foi transferida para Pediatria sofreu intensamente pois percebeu que no momento da "alta"as mães não tinham dinheiro para comida que dirá para remédios.Cabisbaixas saiam em silencio mas logo depois a criança ou adolescente voltava com a mesma doença agravada e as vezes para morrer
Vera resolveu que alguma coisa tinha que ser feita , reuniu no play do seu AP profissionais de saúde do HL, vizinhos, amigos e parentes expoz a situação e com a adesão dessas pessoas foi criada a Associação Saude Criança Renascer .
Num trecho de um poema de Goethe ele diz mais ou menos assim:Se você pretende fazer o bem a seus semelhantes comece logo pois a Providência Divina estará do seu lado e você se surpreendera com as "coincidências"que surgirão em seu auxilio .A primeira veio de uma vizinha minha que "por acaso" entrou comigo no elevador, aceitou de participar da reunião de adeptos prestes a começar. Logo de saida nos apresentou a uma amiga que também fazia um trabalho beneficente nas cavalariças do Parque Lage e generosamentente nos cedeu um espaço para darmos inicio a nossa obra. Durante oito anos trabalhei com imenso prazer em várias equipes do Renascer e tambem tive oportunidade de criar algumas.
Passados dezessete anos existem cerca de 24 associações semelhantes formando uma rede que ajuda centenas de famílias e milhares de crianças .Somos reconhecidos internacionalmente e já recebemos premios significativos.Se alguem desejar saber mais a respeito visite o site :
http://www.saude-crianca.org.br/
E ai Talita esta não é uma linda atitude verdadeira e comovente com um Final Feliz?
Cordelia Carmen

sexta-feira, 22 de maio de 2009


Ela poderia ser facilmente comparada a um sol. Era loura linda, brilhante, adorava experiências novas e emocionantes.

Deu conta dos estudos fundamentais, foi campeã estadual de tênias, no golfe atingiu a 1° categoria. Casou-se, teve as lutas comuns dos primeiros tempos, seu marido venceu profissionalmente e lá pelo meio dos tempos ela administrava uma mansão e um belo apartamento de praia. A vida continuou rolando e seu primeiro desgosto foi a perda de sua 3° filha, depois de grandes lutas para salvá-la. Todo mundo pode imaginar a ferida profunda que este fato acometeu uma mãe.
Ainda teve forças para ter uma nova filha e criar as três com desvelo e carinho. Contudo novas desilusões, doenças e desgostos chegaram sem piedade. Sempre tentando se aperfeiçoar para se sentir merecedora de atenção e carinho, mantinha a forma física de uma jovem. Creio que não foi bem sucedida em suas pretensões.
Então com seu espírito de conquista fez um curso completo de Direito. Acordava bem cedo para dar conta de seus afazeres e cumpria-os todos. Foi lamentável que não tivesse nenhum rudimento de espiritualidade. No meu entender, ela cansou de se esforçar para ser reconhecida e amada por um companheiro a sua altura.
Eu adorava esta sobrinha!!!
Senhor tende piedade desta alma bem intencionada e correta, dai a ela um lugar de luz e paz que não conseguiu nesta vida.
Amém.


Na 3° tentativa ela conseguiu seu intento e partiu desta vida. Sua filha, doente emocionalmente há anos fez o mesmo. Esta foi uma terrível desgraça que nos atingiu a todos, mas nada comparável ao estado em que está sua mãe, minha grande amiga que lamento profundamente esteja passando por este desgosto que certamente carregará até seu fim. Impotente diante de tão grave situação, da distância e idade avançada de ambas a única coisa que posso fazer é telefonar freqüentemente, mostrando meu carinho. Para ter o que falar, conto da nossa vida e às vezes consigo até fazê-la rir. Na maior parte do tempo choramos juntas com saudades do tempo em que como ela diz “A vida ainda estava arrumada”.

sábado, 16 de maio de 2009

Ainda acordo sempre me sentindo com 38° de febre, a única coisa que me dá forças é que sei que se não fraquejar vai passar. Como?

Principalmente fazendo uma atividade que exija raciocínio, exercícios, movimentos, funções também ajudam. Passei um fim de semana como muitos, com Tereza filha de Naná que Vera generosamente contratou para me acompanhar. Ela é uma pessoa com astral alto, dessas que tira o ânimo não sei de onde, mas o que importa é seu riso fácil e disposição para tudo. Nós duas adoramos jogar canastra o que ela invariavelmente me ganha. Enquanto suo para fazer uma limpa ela faz 3 até 4 como se fosse um forno de canastras. Isso irrita um pouco, mas é tão divertido e me faz tanto bem emocionalmente que perder é o de menos.
Outro fato relevante de ontem foi que Roberto veio com Bruno ao encontro de Renato, carinhosamente o abraçou chamando-o de meu irmão querido!
Fiquei alegre por esta reconciliação, pois sei o quanto vai ser importante para os dois, num futuro não muito longe. O avanço na espiritualização fez muito bem para Roberto, se prega que o perdão é o mais importante têm que começar a fazer uso com seu irmão de sangue.
Esse fim de semana todos viajaram cada um para seu lado... a casa está tão silenciosa, que mesmo com os aparelhos auditivos não dá para ouvir nem um ruído. Apelo para o Espírito Santo que existe em mim e sinto-me bem mais confortada. Será que vou merecer a vida eterna? Faço alguma das prerrogativas que dizem os livros serem necessárias, mas só algumas. Tenho fé que Deus repare que meu corpo está cansado e me acolha como sua filha bem intencionada e que o ama.
Amém.

Como vêem passei muito tempo sem escrever. Sentia-me vazia, com idéias desinteressantes, deixei pra lá.
Não é que esteja de bom humor, minha motivação foi desabafar. Todos os dias acordo com a sensação de que estou com 38° de febre que tal?
Não importa se dormir mais cedo ou mais tarde, se não vi filmes trágicos, se só tomei meu suco de laranja, se nem pensei em bebida alcoólica. É sempre igual meu acordar. A única coisa que me anima é que sei que dentro de cerca de duas horas, depois de ter-me aplicado em combater este mal, com técnicas conhecidas ele passará. Tenho uma amiga que é “campeã internacional da volta por cima” que diria: Você deve pensar no bom que ainda te resta, no agora, fazer exercícios, ser igual a fulana que se diverte tanto com os netos ou a mãe de Silvia que faz constante visitas aos presos de Valença para confortá-los. Ai meu Deus nada disso me atrai, no momento sou uma senhora sem graça, o que fazer? Tenho que me aturar. Rezo muito para o Espírito Santo me ajudar a ter coragem para levantar, faço alguns movimentos ainda deitada, respiro fundo, me massageio e de repente fico em pé. Já é uma glória. Tomo meu café, refeição que mais gosto, faço preparação algo que ocupe meu raciocínio: palavras cruzadas, bridge no computador, emails ou escrevo como faço agora.
Estou muito aborrecida de ter perdido a oportunidade do concurso do Cine France Piaf. Depois de ter visto vários concorrentes achei teria chance levando em consideração que eu faço mais seu tipo, cabelo, idade e a boa pronuncia de francês que adquiri no Sion. Cruz credo, acho que me sabotei não batalhando mais por concorrer. Berenice me conformou dizendo que eu ia ficar intragável se vencesse esse desafio e que seria jogada no mundo do ego atrasando anos minha espiritualização. Para consolo serve, mas poderia não só dar um rumo diferente a minha vida, como talvez fosse uma oportunidade de ajudar os desfavorecidos. Mas não adianta chorar sobre o leite derramado...
Estou ao mesmo tempo animada e assustada com o cruzeiro que como já disse farei em companhia de Renato. Porém afugento os pensamentos negativos da viagem.
Ontem me alegrei comprando umas roupinhas para meu cruzeiro marítimo. Ainda estou gorda “pra xuxu”, mas os trajes são bem alinhados. Renato me propôs que comprasse um presente para ele e assim trocamos agrados na noite de Natal. Realmente ter estes três filhos bons desse jeito é uma benção. Estão sempre atentos para que não me falte nada, principalmente companhia. Raciocinando sei que tenho ainda várias coisas para me regozijar, mas o que a ausência de Horst me causou ninguém pode dar jeito...
Senhoras da 3° idade, tentem minimizar desentendimentos com seus companheiros, sempre que possível transformá-los num motivo de riso, porque mal com eles muito pior sem eles. Eu não soube fazer isso, mas deve haver quem saiba.
Até breve, querido diário. Espero da próxima vez estar com melhor astral.
Para completar a história quero dizer que o cruzeiro com Renato foi muito bom, navio de luxo, comida boa. Tivemos a maturidade de harmonizar as vontades de cada um, em fim tudo deu certo.

sexta-feira, 1 de maio de 2009


Grande parte de minha insegurança me parece ter começado quando iniciei a aprender a ler com minha mãe.

Tempos depois vim a saber que ela tinha razões de sobra para estar frustrada. Acredito ser esse o motivo para que suas aulas fossem tão irascíveis! Neste clima desagradável eu ficava nervosa e não conseguia me concentrar nem aprender. Isso a deixava mais irritada ainda e eu torturada quando chamada para as aulas, cujo local até hoje me recordo com desprazer. Houve um dia que por acaso escutei-a falando com alguém: “Ainda bem que ela é bonita e graciosa, pois não tem aptidões intelectuais. “Senti uma verdadeira punhalada no coração”. Então quer dizer que eu era burra! Que tristeza...
Minhas duas irmãs eram consideradas boas alunas do Colégio Sion, um dos melhores do Rio. Flora era aplicada e Leonor considerada “Geninho” que até maratona de matemática participou e aos 10 anos se interessava verdadeiramente por ler “Les Miserables” de Victor Hugo. Elas eram boas amigas, o que sobrou para mim,como já disse, foi a companhia de meu irmão Julinho.
Recordo-me que mamãe delegava a Leonor a função de reforçar meu aprendizado. Ela que detestava a função ia de mau humor e lembro-me de algo que também me feriu fundo e foi motivo de ridicularização, o fato de eu ter escrito uma palavra com ortografia errada. Todos riram de mim o que me deixou mais humilhada. Estes fatos foram crescendo na minha cabeça de tal forma que passei a ficar introvertida e calada diante das pessoas com receio de dizer bobagens e sofrer com elas.
Interessante que agora escrevendo estas lembranças vêm surgindo detalhes e com a emoção correspondente. Como pode algo tão antigo não ter sido completamente apagado? Talvez porque essa “vergonha” tenha me acompanhado por longos anos. Houve uma trégua neste clima quando fui fazer o primário no colégio Mello e Souza onde de repente me vi entre as três primeiras da classe e muito valorizada pelos donos e diretores da escola. Mas meu sonho era ir para o Sion onde estudavam minhas irmãs e pertencer a mesma categoria delas.
Aí é onde entra Sarah! Na época havia um exame de admissão para cursar o ginásio muito levado a sério. Para me preparar bem fui fazer um curso de férias na casa de Sarah, onde a família super intelectualizada organizou para filha e amigas próximas uma sala de aula com carteiras e todo um ambiente escolar. Não posso dizer que ia para lá satisfeita mas todos eram muito afetuosos comigo e estava me preparando por vontade própria para me equiparar a minhas irmãs.. Sarah e eu éramos primas, irmãs nascidas no mesmo mês com diferença de dois dias. Seu pai irmão da minha mãe era um cientista ateu que fazia questão de provar a inexistência de Deus. Era um homem um tanto quanto original que valorizava muito mais a Sarah do que sua outra filha mais velha pelo fato dela ter pendor para os estudos. Eu era a bela e Sarah a sabia e assim o a sansara continuava Naturalmente ambas passamos no exame bem colocadas, ela para Escola normal e eu para o Sion. No 1° ano fui muito feliz acompanhava a turma com facilidade, mas mamãe não se conforma que eu fosse da classe B (alunos menos adiantados do que a turma A) convenceu as freiras sem perguntar minha opinião a me transferirem no 2° ano ginasial para a turma A. Não só perdi minhas colegas, a posição que tinha conquistado como peguei a pior chefa de classe: Mere Maurita, apelidada “o Leão do Metro” Voltei para o inferno! Minha classificação caiu para abaixo da média, e a frustração voltou a subir. Perdi muito o prazer de estudar e arrastei estes anos até me formar na 4° série. Saturada de horários rígidos, bênção ás 5 horas da tarde morta de sono e desinteresse fiquei mais ou menos meio ano namorando, indo á praia e estudando inglês na Cultura Inglesa. Sobrava tempo e resolvi fazer o curso de secretariado no Colégio Fontainha, o que me levou até lá não me lembro mas só pode ter sido o Espírito Santo pois foram dois anos ma-ra-vi-lho-sos!
Gostava de tudo: do currículo, professores, colegas e diretores. Foi uma nova versão do Mello e Souza, tive ainda meu primeiro contato com alunas de teatro e a grande satisfação por ter sido escolhida para o papel de Branca de Neve, representado no Teatro Municipal com pompas e honras para festejar a formatura.